Quilombo Dona Bilina
O Quilombo Dona Bilina localiza-se na região conhecida como Rio da Prata, no bairro de Campo Grande, na cidade do Rio de Janeiro. Parte de seu território hoje se encontra nos limites do Parque Estadual da Pedra Branca, na vertente norte do Maciço da Pedra Branca. Possui forte relação com a comunidade da vertente sul do Maciço (Vargem Grande), devido ao imenso e regular contato comercial e social entre os moradores, com a formação de laços de parentesco.
A história do Rio da Prata vincula-se à ocupação colonial de Campo Grande (região chamada de “terras além de Irajá”), no século XVI, com a formação de grandes e pequenas propriedades rurais, voltadas para a agricultura de subsistência. Essa ocupação territorial deu origem a um pequeno campesinato, de origem negra e mestiça, oriundo das relações inter-raciais estabelecidas entre agricultores e agricultoras da região, fossem eles pertencentes à condição escrava, livre ou alforriados. Além de colonos de origem europeia, havia também a forte presença indígena na região, com a escravização dessa população desde o início da ocupação portuguesa colonial.
Essa comunidade campesina constituiu ao longo dos séculos uma identidade local própria, ancestral, relacionada à terra, ao meio ambiente e aos saberes locais transmitidos entre gerações. Esses agricultores tradicionais, que produziam (e ainda produzem!) nos morros e na baixada do Maciço e se articularam contra a opressão colonial-escravocrata, foram a base de formação do que hoje identificamos como Quilombo Dona Bilina.
Esse aspecto identitário motivou a Associação de Agricultores Orgânicos da Pedra Branca (Agroprata), criada entre 2001 e 2003, a solicitar o pedido de reconhecimento do território como remanescente quilombola, mantenedores de antigas tradições da região. Em 2017, o Quilombo Dona Bilina recebeu a certificação da Fundação Cultural Palmares.
O nome Dona Bilina é uma homenagem a uma rezadeira e parteira local, lavradora, negra, moradora do Vale da Virgem Maria. Seus familiares ainda hoje residem no território plantando, cantando e produzindo resistências. A história de Dona Bilina é a história de muitas mulheres e famílias locais, marcada pela profunda relação com a floresta e sua preservação, com a agricultura familiar de subsistência, saberes tradicionais, memórias da escravidão, ameaças de remoção, dificuldades de manter a produção e o desejo de permanecer nos seus lugares de memória, afeto e identidade.