Ecomuseu Quilombo Dona Bilina

inventário etnobotânico

As ervas e plantas medicinais consistem em importante e valioso patrimônio da comunidade Dona Bilina. Saberes e práticas de saúde coletiva, transmitidos oralmente na comunidade, preservam os modos de fazer das comunidades, promovem interação e troca de experiências entre gerações e visibilizam o conhecimento tradicional. Os nomes populares das ervas podem variar, assim como seus usos na culinária, em práticas religiosas (banhos, benzer, rezas) e na medicina tradicional, com a produção de “garrafadas”, remédios, xaropes, chás, compressas, emplastos e cremes, por exemplo.

Assim como Dona Julia de Oliveira, uma das últimas rezadeiras vivas da região, Dona Bilina(in memoriam), Dona Candoca(in memoriam), Dona Elisia, Dona Nonola (in memoriam), Dona Iara, Dona Fezinha (in memoriam), Dona Deolinda, Dona Antonia Maria de Souza, Dona Cecília (in memoriam), Dona Senhora e o rezadeiro Seu Pedro da Caixa d´água (in memoriam) foram pessoas que conheciam as propriedades e os poderes das ervas, usando-as para cura espiritual e do corpo. Atualmente Seu Quincas (Joaquim Evaristo de Oliveira) mantém a tradição herdada da mãe, Dona Cecília Maria de Oliveira, e de outros mais velhos, de fazer xaropes e garrafadas. Junto às ervas são misturados outros ingredientes, tais como mel, limão, banana, alho, cebola, cravo, canela e gengibre, para citar alguns exemplos. Para conservar podem ser utilizadas cachaça, própolis ou álcool de cereal, dentre outros. Seu Quincas, Seu José Nunes (Zé Erveiro), Seu Máximo Nunes de Oliveira e Seu Luís são erveiros ainda presentes no território, cultivando plantas e saberes. 

Em relato, Dona Artemis diz que fazia xarope para encomenda, no fogão a lenha. O açúcar ou mel eram trazidos pelas pessoas que encomendavam. Em sua receita, Dona Artemis misturava frutas como banana, figo, laranja da terra ou jabuticaba com alfavacão do campo, flor de mamão macho, casca de embaúba e outros ingredientes. Depois disso feito, coava e estava pronto o xarope. A erva de Santa Maria amassada (macerada) com leite ajuda contra a verminose, mas também pode ser usada para fazer xampus e loções contra piolho, carrapatos e pulgas. A babosa é muito comum para uso em cabelos, mas atua também no controle de infecções e inflamações. A erva Macaé era muito comum na região, mas hoje não está em todos os lugares, age no fígado, assim como o boldo. São muitas possibilidades de usos ainda conhecidos e vivenciados pela comunidade. 

Este inventário integra um conjunto de ações de preservação da cultura e tradições locais do território Dona Bilina, contribuindo para o reconhecimento público do uso e manejo das plantas medicinais adotadas por esta comunidade estabelecida há anos no Rio da Prata. O inventário é uma ação contínua, em permanente realização, que deve ser revisado, alimentado e ampliado a partir da participação da comunidade na construção de conhecimento coletivo. As informações foram obtidas através de entrevistas e conversas com os moradores e as fotos são de ervas existentes na horta comunitária e na casa do Seu Quincas.

 

Erva Macaé ou Maria da Glória ou Rubim

Leonurus sibiricus

 

Combate males do intestino, estômago e fígado, além de curar inflamações no útero. É antifebril, antirreumático e é benéfica para as vias respiratórias. Também ajuda a emagrecer. Seu uso pode ser feito como chá, macerada ou preparada em sumo. 

 

Conhecimentos repassados por: Leonídia Insfran de Oliveira Carvalho, Alice Alves Franco e Áurea Alves.

Erva Cidreira

Lippia alba

 

É indicada para pressão, cólica menstrual e como calmante, aliviando dores e tensões. É usado em chá para adultos e crianças. Para uma xícara de chá, são utilizadas 4 folhas. Ou para 2 litros de água um maço de folhas. Pode ser usado junto com outras folhagens.

 

Conhecimentos repassados por: Leonídia Insfran de Oliveira Carvalho, Sueli de Oliveira Christino, Alice Alves Franco, Caroline Rodrigues, Áurea Alves e Carmen Paixão.

Santa Maria

Dysphania ambrosioides ou Chenopodium ambrosioides

 

É expectorante, auxiliando no combate a problemas respiratórios. Como shampoo, atua contra piolhos, carrapatos e pulgas. Macerada e misturada com leite, pode ser ingerida por pessoas ou animais para combater vermes. Também pode ser usada como emplastro (macerada com sal e vinagre) para melhorar machucados e torções. 

 

Conhecimentos repassados por: Leonídia Insfran de Oliveira Carvalho, Alice Alves Franco e Aurea Alves.

Alfavacão

Ocimum gratissimum L

 

É expectorante e antialérgico. Normalmente usada como xarope ou chá para combater gripe, resfriados e pneumonia. 

 

Conhecimentos repassados por: Leonídia Insfran de Oliveira Carvalho, Seu Quincas (Joaquim Evaristo de Oliveira), Dona Artemis, Alice Alves Franco.

Babosa

Aloe vera

Melhora a saúde da pele e do cabelo, além de ajudar no tratamento do câncer, infecções e inflamações. Porém tem uma toxicidade relevante. A baba interna de suas folhas pode ser tomada batida como suco ou vitamina. Recomenda-se que utilize apenas a parte do meio da folha para retirar a baba. É usada para fazer embolso nas casas de estuque, misturada ao barro. 

 

Conhecimentos repassados por: Leonídia Insfran de Oliveira Carvalho, Alice Alves Franco, Caroline Rodrigues e Áurea Alves.

Guaco

Mikania glomerata

Normalmente é usado em xarope, tem efeito broncodilatador e expectorante, ajudando no tratamento de problemas respiratórios como bronquite e asma. Pode ser usado misturado com outras ervas.

 

Conhecimentos repassados por: Leonídia Insfran de Oliveira Carvalho, Seu Máximo Nunes de Oliveira, Caroline Rodrigues e Alice Alves Franco.

Boldo

Coleus barbatus Benth

Seu uso pode ser como emplastro contra dores e contusões. Pode ser usada como infusão: colocando no álcool, deixando guardada por 7 dias e depois passar no machucado. Também pode-se beber sumo (macerar e tomar com água) ou chá para melhorar problemas de vias respiratórias e resfriados. 


Conhecimentos repassados por: Seu Quincas (Joaquim Evaristo de Oliveira), Alice Alves Franco e Áurea Alves.

Arnica

Solidago chilensis Meyen

Seu uso pode ser como emplastro contra dores e contusões. Pode ser usada como infusão: colocando no álcool, deixando guardada por 7 dias e depois passar no machucado. Também pode-se beber sumo (macerar e tomar com água) ou chá para melhorar problemas de vias respiratórias e resfriados. 


Conhecimentos repassados por: Seu Quincas (Joaquim Evaristo de Oliveira), Alice Alves Franco e Áurea Alves.

Folha de Laranja da Terra

Citrus aurantium L

Muito usada no xarope ou no chá, tem ação antigripal e expectorante. Pode ser misturado com outras folhas como pitanga, arnica, guaco, erva de passarinho (da árvore que não tem espinho). Também é conhecida como laranja-azeda.


Conhecimentos repassados por: Dona Artemis, Dona Júlia, Cinara da Silva Gomes, Alice Alves Franco e Áurea Alves.

Quebra pedra

Phyllanthus niruri

Seu chá é bom para combater pedras nos rins.

 

Conhecimentos repassados por: Alice Alves Franco e Áurea Alves.

Carqueja

Baccharis trimera

Auxilia no emagrecimento e no combate à dor de cabeça e enjoo, além de diminuir gordura no fígado e nas artérias. Também é indicado para abrir o apetite, boa para o estômago e combate verme. Tem gosto amargo e seu uso deve ser moderado. 

 

Conhecimentos repassados por: Seu Quincas (Joaquim Evaristo de Oliveira), Seu Máximo Nunes de Oliveira, Alice Alves Franco e Áurea Alves.

Tanchagem

Plantago major

Tem efeito antibiótico. Existem dois tipos de tanchagem e se não for bem usada pode ser venenosa. A tanchagem de folha lisa (que parece alface) pode ser tomada em chá, combatendo inflamação, e usada em gargarejo para melhorar garganta inflamada. Já a tanchagem de folha cabeluda, não deve ser ingerida, é para macerar e colocar em machucado com pus para desinflamar. 

 

Conhecimentos repassados por: Leonídia Insfran de Oliveira Carvalho, Seu Quincas (Joaquim Evaristo de Oliveira), Áurea Alves.

Espinheira Santa

Maytenus ilicifolia

Indicada como chá para insônia, ansiedade e problemas no estômago, como úlcera. É necessário lavar bem. Também é usada na aromaterapia, através de vaporizador. 

 

Conhecimentos repassados por: Wilson Fernandes e Áurea Alves.

Goiabeira

Psidium guajava L

Além do consumo da fruta, suas folhas são utilizadas para fazer chá ou para mascar, com objetivo de amenizar ou curar diarreia. Seu chá também contribui para o crescimento do cabelo e ajuda a diminuir a queda de cabelo. Pode colocar umas folhas dentro do creme de cabelo convencional. Usado para clarear os dentes. 

 

Conhecimentos repassados por: Áurea Alves

Umbigo de bananeira

Musa spp

Deve ser somente o umbigo da bananeira São Tomé, que é próprio para fazer o xarope para tosse, catarro, asma e bronquite. Bananeiras são muito importantes para a comunidade local pelo comércio de seus frutos.

 

Conhecimentos repassados por: Áurea Alves

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