Ecomuseu Quilombo Dona Bilina

Griôs e Narradores

Griô é um termo francês usado para referenciar os mais velhos pela sua sabedoria, conhecimentos e tradições, transmitidos oralmente entre gerações. Destacamos aqui algumas pessoas que fazem parte do conjunto de griôs da comunidade de Dona Bilina: homens e mulheres que são referências locais devido às suas histórias de vida, trajetórias, memórias e importância na preservação das identidades e tradições locais. Carregam consigo formas de viver historicamente vinculadas ao Rio da Prata, ao Maciço da Pedra Branca e ao Quilombo Dona Bilina. São também resistência viva das mudanças ocorridas no local, retratos vivos e afetivos dessa grande comunidade. 

Junto a esses griôs temos também pessoas identificadas como narradores e narradoras da comunidade, cujas histórias de vida integram as memórias coletivas da região, apresentando olhares relacionados aos seus lugares, tempos e relações com o espaço.

Os nomes aqui citados representam parte dos griôs e dos narradores da comunidade, dos quais foi possível reunir algumas informações dadas nos trabalhos de inventário participativo. Outros nomes foram citados, mas carecem de pesquisas de aprofundamento. 

Griô Aldair Gomes

Seu Aldair é neto de Dona Bilina, matriarca da região, moradora da Virgem Maria, com “um bananal bonito lá para cima”, rezadeira, que fumava cachimbo e adorava papa de milho. Aldair participava das festas nos morros, cantava calango e frequentava os centros religiosos de matriz africana de seu pai e outros existentes na região. Hoje frequenta a Igreja Católica, onde é feliz, mas guarda com carinho suas histórias. É um grande griô do quilombo, representando no seu modo de vida, nos seus saberes e na sua família a continuidade histórica e identitária dessa comunidade de agricultores. No vídeo ele fala pouco, mas sentar na porta da sua casa é garantia de horas de conversa!! Conheça Seu Aldair clicando aqui em baixo!!

Aldair nasceu na Virgem Maria, morou em Vargem Grande e atualmente reside no Morro dos Caboclos, onde possui um sítio. Planta banana, aipim, batata, jiló. Possui árvores frutíferas em seu terreno. Quando mais novo morou em casa de estuque e frequentava centros de umbanda. Não frequentou escola formal, por ter iniciado cedo uma rotina de trabalho na terra. Relata que caçava paca e tatu com seu pai, pois não havia carne com facilidade no morro. Com família numerosa, lembra que a mãe colocava legumes no feijão para render mais. Antigamente escutava histórias sobre folclore, em especial sobre o Saci, por exemplo, assobiar a meia noite chama saci e os seus truques. Ao longo da vida passou por diferentes empregos, como motorista de caminhão, e depois voltou para a agricultura. Aldair cantava calango nas festas, ainda possui alguns instrumentos em casa. Lembra da época de baile de sanfona. Atualmente tem 67 anos, adora contar histórias e frequenta a igreja católica. Está tentando se aposentar. 

Alexandrina Ribeiro (Dona Dina)

Filha de José dos Santos Figueira (Zé dos Santos) e Virgínia Meira dos Santos (Geni), que eram da cidade de Sumidouro (RJ) e se mudaram para Rio da Prata. Seus avós paternos eram Manoel dos Santos Figueira e Alexandrina (origem do seu nome). Seus avós maternos foram Celestina e José. Ao contar sobre seus padrinhos de batismo, fica emocionada pois eles a salvaram da inanição quando bebê.

Lembra que seu pai doou parte do terreno para construção da bica d´água e do coreto, onde eram realizados os leilões nas antigas festas de Nossa Senhora das Dores. Seu pai realizava os leilões e haviam várias prendas. Conta que quando o prêmio era pernil pronto, dependendo de quem temperou, ficava mais caro. Sobre seu pai ainda, recorda que jogava malha, que ajudou a aumentar a Igreja Nossa Senhora das Dores e organizava ‘vaquinhas’ para pessoas que não tinham recursos para serem sepultadas. Naquele tempo os velórios eram realizados em casa, a noite toda, com oração e lanche.

Quando criança, até os 7 anos, morou em casa de pau a pique com telhado de sapê e subia o morro andando. Aprendeu a costurar desde nova. Também se recorda do bonde. Estudou na escola Alfredo Cesário Alvim, onde hoje funciona a loja de material de construção “ABC”. No carnaval da escola ela e os irmãos brincavam até a noite. Lembra também que antigamente nas vendas tudo era vendido à granel.

É muito religiosa, foi catequista durante muitos anos e atualmente faz parte de um grupo de terceira idade da igreja chamado “Jequitibá” e compôs a letra do hino do grupo.

Alzerina Moreira Maia

(Dona Nonola) (in memoriam)

Alzerina Moreira Maia (1909-1974), conhecida como Dona Nonola, nasceu na Ilha de Guaratiba. Foi produtora rural, líder comunitária, parteira e benzedeira, sua residência ficava próximo a uma nascente de água no caminho do Jequitibá. Era na sua casa que as pessoas se limpavam e se arrumavam para ir a eventos importantes ou à cidade, após descer o morro, assim como as noivas se produziam para o casamento. Havia também um local para cuidar de pessoas adoentadas. Ficou viúva cedo, seu marido era servidor público. Avó de Edinho. Há uma nascente de água no Sítio Farol da Prata batizada de “Elos Dona Nonola”.

Griô Artemis Insfran Carvalho (Dona Artemis)

Dona Artemis tem 81 anos, nasceu na Fazenda São Domingos, que era de sua família, localizada entre Brasil e Bolívia. Filha de Manoel Pinto Insfran e Onorina Inês Toledo Rojas. Sua avó paterna foi Tomásia, de origem guarani, e sua avó materna foi Leona Champanides. Lembra de seu pai e avó conversarem em guarani e em espanhol. Foi criada pela tia-avó Olga Champanides Vasconcelos, que era advogada, morava em Copacabana e era casada com Teotônio Vasconcelos. 

Quando jovem, Artemis deu aulas de ler e escrever. Já morou em Mato Grosso (MT), Brasília (DF) e no Rio de Janeiro. Em 18 de março de 1968 veio para o Rio da Prata, Campo Grande (RJ), para casar-se com Seu Valdir, com quem teve os filhos Leonídia, Valdir e Leila. Lembra das dificuldades na adaptação e vida no Rio da Prata. Da família de Valdir, cultivou relação mais próxima com Candoca. Lembra da época que pegava peixes, lagosta, camarão, caraúna nas cachoeiras da região. Já adulta trabalhou como revendedora da Avon e teve muitos cachorros, que garantiam a segurança da casa. Ajudava a comunidade fazendo xaropes com o seu conhecimento sobre ervas, levava crianças para o hospital, bem como ajudava as pessoas com informações sobre legislação e direitos civis (informações que aprendeu com sua mãe de criação). Também foi integrante da Associação do Rio da Prata.



Dona Bilina (in memoriam)

Nasceu e morou na Virgem Maria, bem no alto do Morro dos Caboclos. Foi parteira, rezadeira e da umbanda. Casada com Seu Toizinho ou Seu “Liquinho” (relato de Aldair e Dona Neusa). Mãe de Ari , Antônio (falecido, pai do Seu Aldair), Zezé (falecido), Maria, Anail, Palmira (falecida). Avó de Aldair e bisavó de Carolina Rodrigues. Segundo Seu Aldair, era proprietária de muitas terras. Fazia papa de milho, saía pouco de casa, apenas para fazer partos. Fumava cachimbo. Quando seu marido faleceu, os familiares iam para sua casa fazer companhia.

Candoca (in memoriam)

Candoca fazia parte de uma das grandes famílias da região, com muitas propriedades de terra na baixada do Rio da Prata. Possuía um campo de futebol, conhecido como “Campo da Candoca”, muito famoso, que as pessoas vinham de longe jogar. Também tinha um armazém. A grande propriedade foi repartida e vendida por seus herdeiros, mas o local ainda mantém a denominação “Candoca”. Casada com Fernando dos Santos (Seu Santinho), que faleceu cedo, tiveram os filhos Pedrinho Carvalho, Olivia dos Santos Oliveira, Henrique, Djalma, Laurinha, Edite, Helena e Juquinha (Florencia). Era prima de Dona Nonola. Era avó de Valdir Oliveira Carvalho (que se casou com Dona Artémis) e bisavó de Leonídia Insfran. Também foi indicada como importante rezadeira da região.

Griô Claudino Avelino da Costa (Bichinho)

Filho do Senhor Arnaldo Avelino da Costa, um dos produtores mais antigos da região, que morava perto do Jequitibá, no morro dos Caboclos. Claudino, também conhecido como Bichinho, nasceu com a parteira Dona Nonola e trabalhou toda a vida na agricultura. Hoje é produtor e membro da Associação de Agricultores Orgânicos da Pedra Branca – Agroprata. 

Griô Deolinda Augusta Gomes

Nascida em 1934, pelas mãos da bisavó portuguesa Maria, é moradora do Rio da Prata desde os 5 anos de idade. Filha de Francisco Gonçalves Teixeira e Maria Augusta. Tem irmãs chamadas Ana, Isabel e Conceição e Palmira. Casada com seu primo, Oswaldo Gomes (já falecido), que trabalhava no sítio do pai. Seu pai era português, fazia fogueira e tinha vitrola – escutava fado no disco. As pessoas iam para a casa dela, dançavam, brincavam e bebiam vinho. Gosta e sente saudade da pedra do sítio em que morava.

Relata as festas de São João e São Pedro, no alto do morro. Nas festas os alimentos que tinham eram aipim, batata assada na fogueira, canjica e licor que fazia em casa (fervia água, capim limão, álcool, corante). Lembra do Baile de Tião Malaquias no Viegas, que tinha clarinete, saxofone e sanfona. Ela aprendeu a ler com Dona Sebastiana. Seu pai plantava, vendia no mercado em Madureira e em Campo Grande. Ela trabalhava catando e debulhando guandu. Lembra da tropa de carvão – havia muitas carvoarias na serra. E que no sítio moía-se café no pilão. “A Serra era uma cidade”, resume. Deolinda teve 11 filhos e só 2 trabalham na roça (Jorge e Carlinhos). Dois dos dez partos foram feitos pela mãe de Deolinda e um parto foi feito por Dona Nonola. Sua mãe rezava com toalha de linho: virava o copo na toalha e rezava. Seu pai rezava com os galhos da rua. Dona Deolinda lembra que a parteira que realizou os partos de sua mãe foi Brasilina. Atualmente Deolinda frequenta a igreja Universal.

Edson Luís de Paiva (Edinho)

Nascido na região do Rio da Prata, é neto de Dona Nonola (Alzerina Moreira Maia), importante parteira local. Morou anos longe do Rio da Prata e retornou quando seu pai Ari faleceu. Da linhagem paterna, é bisneto de Candoca. Explica que o nome da Estrada da Batalha advém da “batalha” que era passar a cachoeira que cortava o caminho quando chovia forte.

Lembra de quando só ele tinha televisão no morro e a tela tinha plástico azul, vermelho e verde, que atraía as pessoas. Além disso, tem lembrança da festa de São Jorge com carro de boi. Hoje é proprietário do Restaurante Farol da Prata, instalado no sítio da família, na região há mais de 100 anos na região. A casa sede do sítio foi construída como ponto de erradicação da febre amarela. No restaurante, onde serve o famoso suco de capim limão, funciona há mais de oito anos a feira orgânica, com parceiros locais, como a Agroprata. 

Griô Eli Pereira Barbosa ( in memoriam )

Filho de Pedro Albino Barbosa e de Margarida Rocha Barbosa (ela veio de Passa Três, município de Piraí. Já é falecida). Seus avós paternos são João Albino Barbosa e Augusta. Ele trabalhava no ônibus, mas começou a fazer feira para sua mãe quando seu pai faleceu. Seu pai plantava laranja, aipim, caqui etc. Comprou vários sítios no Morro dos Caboclos e mora há mais de 30 anos no local. Com 70 anos, é casado com Nancy do Rosário Barbosa, também nascida no local.

Tem uma venda que antigamente era administrada pelo sogro (Sebastião Batista do Rosário – conhecido como Tião Polaco, polícial) em terreno alugado de Manoel Cardoso. A venda era de estuque. Seu Eli comprou o terreno, demoliu a antiga venda e a refez em alvenaria. Está em funcionamento até os dias atuais.  

Lembra que a Igreja Nossa Senhora Aparecida foi construída há mais de 30 anos no local do antigo campo de futebol, onde eram realizados campeonatos. Havia campeonatos também do Jogo de Malha, típico da região do Maciço da Pedra Branca e arredores. Ainda possui as partes do jogo. Realizava forró aos domingos na venda, onde o morador Wagner Santos (neto de Mané Cardoso) tocava. Lembra dos bailes em casa, com sanfonas, das fogueiras das festas juninas, dos calangos. Afirma já ter visto o Boitatá (bolo de fogo cruzando os morros).

Griô Joaquim Evaristo de Oliveira (Seu Quincas)

Nascido no Morro dos Caboclos, onde ficou até 1975, quando se mudou para a casa onde mora atualmente. Após a morte de seu pai (Lico Nunes) os terrenos no Morro do Caboclo foram vendidos, mas conclui que não foi uma boa decisão, pois era a melhor roça da região. Chamada de Sítio São Jorge, produzia banana, laranja, abacate, manga, milho, abóbora, couve, guandu – a produção descia em burros e era vendida em mercados e feiras.

Com 80 anos, trabalhou desde cedo na roça. Da sua infância humilde recorda que não tinha sapatos, andava muito descalço, e usava roupas feitas de saco de algodão tingido. Aprendeu muito sobre ervas com a mãe Cecília, que era rezadeira, benzedeira e parteira, e quando trabalhou no Parques e Jardins, por volta de 1967-68 (guarda até hoje os cadernos das aulas). Fica muito emocionado ao falar da mãe. Além de saber fazer casa de taipa e estuque, toca pandeiro e conhece muitos sambas. Frequentava e tocava nos bailes de antigamente. Guarda até hoje a peteca que brincava. É um dos poucos produtores de garrafadas ainda existente na região. Grande conhecedor de ervas e suas propriedades, possui no quintal de casa uma enorme variedade de plantas, usadas para xaropes, concentrados e alimentação.

Julia de Oliveira Castro

(Dona Júlia)

Última rezadeira da região da Candoca. Seus pais eram Luis Antonio de Oliveira e Maria Ana da Conceição, possivelmente portugueses. Seu marido era Josino Nunes de Castro. Nascida e criada na Serra do Viegas (na virada) e na infância trabalhou como lavadeira desde os 10 anos. Quando criança brincava de boneca de bananeira e de pano, de panelinha de barro e batia café.

Brincava de se esconder dentro dos potes de coletar laranja. Ela estudou na escola de Dona Elvira. E seu pai, português, não deixava sair muito de casa. Também ia para o carnaval no sindicato. Seu pai contribuiu para a construção da Igreja do Rio da Prata. Quando ela, as irmãs e a mãe iam no armazém do Seu Joaquim, colocavam coisas na cabeça para carregar. Depois que se casou, mudou-se para a fazenda do sogro na Virgem Maria, na qual plantavam muita coisa.

Tinha de tudo lá, afirma. Trabalhava na roça junto com marido e cunhado. Atualmente mora na candoca, planta e faz comida em fogão a lenha. Ela teve 4 filhos, nascidos nas mãos de parteiras, batizados na igreja do Desterro. Seus filhos não plantam. Antigamente ia no centro de Seu carvalho (na rua Moura). É rezadeira há 40 anos. Conheceu as rezadeiras Dona Candoca e Dona Elisia. Dona Júlia teve 2 cambonos, entre eles Seu Valdir. Tem conhecimento sobre ervas e faz remédios.

Padre Lúcio Zorzi

Nascido na Itália em 1940, assumiu a Paróquia São João Evangelista em 1978 e se aposentou em 2016, quando voltou para a Itália (onde vive atualmente). É importante para a paróquia porque priorizou as Comunidades Eclesiais de Base (CEB), implantou conselho paroquial e conselhos de comunidade, foram criadas creches comunitárias, a Assistência às Famílias Carentes (AFC), a Farmácia comunitária etc. Ele priorizou, também, a catequese, a iniciação cristã (catecumenato eucarístico e crismal) a pastoral da adolescência (grupo de jovens e turmistas) e a pastoral da família. Tinha pesquisa primorosa sobre o meio ambiente como rios e montanhas da região. Além disso, incentivou muito a relação das pessoas com a natureza pelo acampamento dos turmistas, saúde pela natureza e pastoral do meio ambiente.

Griô Madalena Silva Gomes

(Dona Madalena)

Nascida no Morro dos Caboclos pelas mãos de sua avó, que era parteira, sua família está na serra há mais de duzentos anos. Por parte do pai tinha bisavó indígena e avó Joana. Relata ser neta de mulher escravizada, pretinha e baixinha, com italiano, por parte de mãe. Na infância brincava de passar anel, pique-esconde e roda, estendendo as brincadeiras até de madrugada no terreiro em noites de lua cheia. Na roça plantava-se aipim, batata, angu, inhame e banana, que eram consumidos durante a semana, e aos fins de semana a família comia também pão e carne, oriunda do Matadouro de Santa Cruz. Trabalha como feirante e é produtora associada da Associação de Agricultores Orgânicos da Pedra Branca – Agroprata. 

Griô Máximo Nunes de Oliveira

Bisneto de Marcos Cardoso dos Santos, que era filho de Marcos Cardoso Santos e Dona Úrsula Martins, proprietários do engenho do Cabuçu no século XVIII. Dona Úrsula junto a Marcos Filho constitui o Engenho do Rio da Prata do Cabuçu em 1783.

Seu bisavô Marcos (português) casou com Manoela que havia sido escravizada anteriormente, tendo sido alforriada. Seu Máximo é filho de Manoel Ozaro (conhecido como Mané Cachimbo), conhecido erveiro e rezador da região, e Leopoldina. O cachimbo era de madeira e depois de louça. É neto de Esmelinda (portuguesa e parteira local). Nascido no Caminho do Cedro, no Morro dos Caboclos, onde a família possuía muitas terras.  Começou desde os sete anos a trabalhar na roça, onde brincava de ter uma hortinha. Seu pai tinha moenda para fazer cana. Hoje ainda mora na região e segue como lavrador. Já trabalhou como jardineiro na Zona Sul. Produz em pequenas quantidades para venda local. Contribui na horta comunitária do Quilombo Dona Bilina.

Griô Neuza de Abreu da Silva

(Dona Ziza)

Nascida e criada na serra, é filha de Luís Ferreira de Abreu (Gabiru) e Estanilia Nunes de Abreu (Doca). Seu pai trabalhava no bonde. Os avós maternos são Justiniano e Elísia, cujo oratório, com vários santos, era famoso na comunidade, porém não existe mais. Avó, que era bem morena, rezava com copo de água e galho. Os avós paternos doaram terras para sua família, onde ela cresceu. Seus irmãos são Zizinha e Zizi, Luca e Quincas (já falecido). Conheceu brevemente Dona Bilina, que era sua tia-avó.

Lembra da época que na roça tinha aipim, inhame, batata doce, jiló, cana, laranja. E que havia fogão a lenha com chaminé. Torrava café e socava no pilão. Que havia criação de porco, galinha etc. Na época não havia geladeira e mantinham a carne de porco na gordura. Costumava-se caçar gambá. Tinham de tudo, só comprava arroz e feijão. Conta uma história do seu tio com Saci, mas nunca o viu. Afirma que já viu muita bola de fogo (boitatá) cruzando o morro.

Lembra de alimentos como mamão ensopado, angu, fubá mexido na folha de bananeira, cuscuz. Conta que antigamente o rio próximo a sua casa era cheio e as pessoas pescavam camarão, lagosta, bagre, traíra. Atualmente percebe que as águas acabaram, precisa comprar água para beber. Neusa estudou com Dona Elvira (mãe de Cotinha) e depois estudou na escola pública (diretora era Dona Cordélia), que hoje é a loja de material de construção, perto do Albano. Na infância, brincava de roda e passar o anel.

Mora na sua casa atual há 45 anos, no Caminho do Vai e Vem (atual rua Soldado Antônio da Silveira), que era de terra, obrigando a lavar os pés no riacho do caminho quando ia para a igreja Nossa Senhora das Dores. Ela gostava das festas religiosas, do leilão e das bandas que se apresentavam no coreto. Os bailes aconteciam cada vez na casa de um vizinho ou família, com sanfona, cavaquinho e música a noite toda. Resume que a vida era dura, mas era um tempo feliz.

Griô Neuza Maria de Souza

Filha de Antônia Maria de Souza (rezadeira e amiga de Candoca) e Manoel Claudino de Souza (trabalhava nos bondes). Sua mãe nasceu na serra, trabalhava na roça e faleceu com mais ou menos 97 anos, foi quem cedeu o terreno para a construção da pequena capela. Irmã de Edgar, João, Nelson, Valdir (todos falecidos), Sebastião, Irineu e Sebastiana (Tia Nina, casou na capela no alto do morro).

Esposa do falecido Lionel. Morava no caminho da Bela Vista, mas por seus filhos terem se mudado, para não ficar sozinha, atualmente mora na baixada. Sua filha, Jéssica (de 30 anos), tem uma casa de taipa (feita pelo seu filho ‘Nado’) no caminho da Bela Vista e por isso frequenta o lugar com ela para melhor criação dos seus netos. Neuza era lavradora, plantava batata doce, aipim, milho. Vendia guandu. Lembra das ladainhas (reza), das festas juninas com forró, dos tachos de doce de laranja, mamão, abóbora e canjica que sua mãe fazia. Antigamente tinha cavalo, burro, galinha, porco. Tocava sanfona, acordeon e pandeiro junto com os irmãos.

Rita Caseiro

Nascida no Hospital Estadual Rocha Faria e criada no sítio São Jorge, na Serra da Virgem Maria, de propriedade da família paterna desde 1930, proveniente de Açores (Portugal). Possui descendência indígena e negra por parte de mãe, cuja família reside na região há mais de 300 anos. Sua avó materna faleceu com 92 anos, tendo nascido em 1898. Advogada e atual Diretora Executiva da Associação de Agricultores Orgânicos da Pedra Branca (Agroprata), teve papel fundamental no reconhecimento oficial do Quilombo Dona Bilina pela Fundação Cultural Palmares. Grande conhecedora da história da região e das tradições locais, realiza um trabalho de valorização dos agricultores e da agricultura local contribuindo para a manutenção das identidades e memórias do território.

Valdir de Oliveira Carvalho

(in memoriam)

Filho de Olívia e Pedro Carvalho. Da parte materna foi neto de Candoca. Foi casado com Dona Artémis e juntos possuíam sítio na região, onde plantavam alface, couve, hortaliças e pimenta, vendidas em restaurantes locais e na feira de Campo Grande. Além de trabalhar, caçava. Trabalhou como jardineiro da prefeitura do Rio de Janeiro, na praça Mário Valadares. É pai de Leonídia, Leila e Valdir.

Griô Zezinho da Cachoeira

Agricultor de família tradicional, da subida do morro. Seu pai, Pedro Fernandez Pereira, descendente de português, morou no Sacarrão e trabalhava vendendo produtos. Sua mãe, Maria de Sales Pereira era descendente de indígenas, possuía cabelo bem liso, escuro e sobrenome Indoquê (a confirmar). Conta que seu avô era um dos homens mais ricos da área, com plantação de batata inglesa no sítio acima e que descia com quase 50 burros carregados para vender na feira de Campo Grande.

Abriu um bar com acesso a cachoeira, onde seu filho Firmino trabalha. Vem muita gente de fora e a rua de acesso fica lotada. Ainda hoje possui roça, com banana, caqui e aipim, produtos colocados à venda. Vendia carquejo, alecrim, arruda e vence demanda no Mercadão de Madureira. Explica que há muita dificuldade em conseguir gente para trabalhar nos sítios pelo grande esforço que é, e dependendo do lugar não se consegue usar máquinas.

Antigamente a serra tinha muito morador, só precisava descer para escoar a produção, comprar o que não tinha na roça e quando estava doente – seu pai possuía carro e era conhecido como a “ambulância” local porque descia com os enfermos. Cada semana tinha uma festa, com viola, cavaquinho, sanfona, forró e muito calango. Sabe fazer enxertos, ofício que aprendeu observando o pai. Demonstra enorme preocupação com as nascentes dos rios, prejudicadas com o lixo. Comprou terrenos no morro para evitar a destruição da natureza.

Outros griôs e narradores da comundade:

Dona Acelina

Dona Alcinéia

Tio Aldemir

Seu Alicio (in memoriam)

Dona Ana

Dona Andorinha

Dona Antônia

Seu Antônio Macumbeiro (in memoriam)

Seu Arnaldo 

Dona Augusta

Seu Ari

Seu Batista

Dona Brasalina (in memoriam)

Dona Cecília Maria de Oliveira (in memoriam)

Dona Celina

Seu Clemente ferreiro (in memoriam)

Dona Dalila

Dona Dalva

Seu Deco

Dona Deolinda

Dona Dolores (in memoriam)

Tia Edite (in memoriam)

Dona Elisia

Tia Elizete Cardoso

Dona Fézinha (in memoriam)

Dona Filhinha

Dona Helena

Dona Iara (in memoriam)

Tio Iola

Seu Ioiô (in memoriam)

João Barroso (in memoriam)

Dona Jura

Tia Juquinha (in memoriam)

Seu Liquinho (in memoriam)

Tia Lola

Seu Lucas (in memoriam)

Seu Manoel Cachimbo (in memoriam)

Vó Maria

Seu Meireles (in memoriam)

Dona Merica

Vó Nair Cardoso

Neuza Maria de Souza

Seu Pedro da Caixa d´água (in memoriam)

Sr Raimundo (in memoriam)

Tia Rita

Seu Roberto (in memoriam)

Dona Sinhá

Valdir Carvalho (in memoriam)

Seu Zeca

Dona Zilda

Fotos de:

Acervo Agroprata

Ana Maria dos Santos Pinto

Acervo Chopp da Villa (Bar do Ernesto)

André Luis Mansur

Áurea Alves do Nascimento

Bruna Pinto Monteiro

Flávio Morais

Julia Wagner Pereira

Luz Stella Rodriguez Cárceres

Acervo Luiz Alberto Damásio

Acervo Igreja Nossa Senhora das Dores

Acervo Quilombo Dona Bilina

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